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A minha rua: Rua Almeida Garrett

A minha rua (foto do meu arquivo). A minha casa é a do lado direito, com grades e flores a desejarem saltar para a rua

Moro na Rua Almeida Garrett. Já foi ou ainda é travessa Almeida Garrett. Também foi Almeida Garret e Almeida Garrett, ao mesmo tempo. Com erro só com um “t”. De qualquer modo, e apesar do erro que engana quem nunca ouviu falar ou escreveu corretamente o nome de um grande vulto das nossas letras, gosto dela, porque a vi nascer. É uma rua direita e tranquila. Todos os vizinhos são amigos e gente muito boa.
Quando eu era menino, era um caminho de areia por onde circulavam os carros de vacas carregados de esterco ou de moliço a caminho das terras de cultura. No regresso vinham com erva, milho, feijões e batatas. As alfaias agrícolas ocupavam o seu espaço. E ainda havia lugar sentado para quem ia ou vinha dos campos. O gado estava tão treinado que até conhecia, sem qualquer indicação do condutor, os caminhos das terras e de casa.
O rodado dos carros tornara duro o caminho. Mas no inverno a água da chuva complicava a vida às pessoas e aos animais. Ao lado do caminho, do nascente, havia uma vala-mestra. Chama-se vala-mestra porque recebia águas pluviais de outras valas mais pequenas.
A vala-mestra encarregava-se de levar as águas para a ria. Nos invernos mais chuvosos a vala parecia um rio, tal a força da corrente. E nas marés-cheias, a vala transbordava e tudo ficava alagado. Cheguei a não poder sair de casa. Quando a maré descia, as coisas melhoravam e voltavam à normalidade. Por vezes ficavam enormes charcos que prejudicavam as culturas. O povo até dizia que as batatas plantadas tinham morrido afogadas.
Depois o caminho foi ensaibrado e somente após o 25 de Abril a rua viu o alcatrão, em data que não posso precisar. Mais tarde, na vala-mestra foram aplicadas manilhas e, ao contrário do que se podia esperar, não mais houve alagamentos significativos.
Com a história da minha rua, abreviada, como não podia deixar de ser, já me esquecia de falar de um dos grandes vultos das letras portuguesas, que viveu entre 1799 e 1854. Foi um escritor e homem público multifacetado: poeta, dramaturgo Par do Reino, ministro. Foi um romântico e o grande reformador do teatro português. Quem há por aí que não conheça Frei Luís de Sousa, Folhas Caídas e Viagens na Minha Terra? E quem de Ílhavo, e não só, desconhece, nesta última obra, o célebre debate que pôs frente a frente um ílhavo e um ribatejano, cada um apresentando-se como o mais valente? E não foi o ílhavo que levou a melhor, com a sua coragem frente ao mar, contra o ribatejano frente ao toiro?

Fernando Martins

AINDA A MINHA RUA ALMEIDA GARRETT


A Flor com o Guri sem guerras

«Muito haveria para escrever... fiquei a pensar na quantidade de memórias que uma rua consegue conter... Se todos os que aí vivem e viveram fossem acrescentando uma pequenina frase... Eu lembrei-me logo que era a rua onde viviam os meus bisavós, com o seu quintal a preencher grande parte da rua...Por aí passei diariamente, durante os anos da escola primária, para aproveitar a boleia do Senhor Professor Fernando...Num bonito carro, um carocha!!! Se estava a chover, a água na vala corria como um rio... e logo apareciam os girinos, que se apanhavam para meter em frascos... A chuva também fazia grandes charcos, no saibro, uma delícia para saltar lá para dentro com botas de borracha... 
Parabéns por mais um bonito texto!!!!!»

Cláudia

Em “Comentários”

NOTA: O texto que escrevi neste meu blogue de memórias e estórias sobre a minha rua mereceu da Cláudia um comentário que aqui transcrevo e que retirei do sítio certo, em “comentários”. De facto, é como ela diz, quando sublinha que ficou «a pensar na quantidade de memórias que uma rua consegue conter…»
A vala de que ela fala parecia um autêntico rio, mesmo caudaloso em pleno inverno. Um primo meu costumava fazer uma espécie da jangada para navegar, enquanto outros se entretinham a fazer barquinhos que por vezes desapareciam levados pela corrente impetuosa. Ele era o navegador, com ares de importante.
Uma outra faceta da minha rua é a solidariedade patente entre vizinhos, à moda antiga, com troca de produtos da horta e fruta. E quando alguém adoece, não faltam as preocupações naturais, com troca de informações. 
Tivemos um cão, o Guri, que só estava bem na rua, para incomodar sobretudo os ciclistas. Até se tornou antipático para alguns. Mas um dia foi gravemente atropelado, necessitando de ser intervencionado para curar as mazelas. Pois a vizinhança até vinha visitar o Guri e procurar saber das suas melhoras. E a minha mulher, a Lita, lá ia dando nota da evolução da cura, falando dele como se uma pessoa fosse. 
A Cláudia evoca também os seus bisavós, o Tio João Catraio e a Tia Carolina, de que hei de falar um dia destes. É que convivi muito com o Tio João Catraio, com quem bastante aprendi do viver de antigamente.

F. M.


RUA ALMEIDA GARRETT




Moro na Rua Almeida Garrett. Já foi ou ainda é travessa Almeida Garrett. Também foi Almeida Garret e Almeida Garrett ao mesmo tempo. Com erro, só com um “t”. De qualquer modo, e apesar do erro que engana quem nunca ouviu falar ou escreveu corretamente o nome de um grande vulto das nossas letras, gosto dela, porque a vi nascer. É uma rua direita e tranquila. Todos os vizinhos são amigos e gente muito boa.
Quando eu era menino, era um caminho de areia por onde circulavam os carros de vacas carregados de esterco ou de moliço a caminho das terras de cultura. No regresso vinham com erva, milho, feijões e batatas. As alfaias agrícolas ocupavam o seu espaço. E ainda havia lugar sentado para quem ia ou vinha dos campos. O gado estava tão treinado que até conhecia, sem qualquer indicação do condutor, os caminhos das terras e de casa.
O rodado dos carros tornava duro o caminho. Mas no inverno a água da chuva complicava a vida às pessoas e aos animais. Ao lado do caminho, do nascente, havia uma vala-mestra. Chama-se vala-mestra porque recebia águas pluviais de outras valas mais pequenas.
A vala-mestra encarregava-se de levar as águas para a ria. Nos invernos mais chuvosos a vala parecia um rio, tal a força da corrente. E nas marés-cheias, a vala transbordava e tudo ficava alagado. Cheguei a não poder sair de casa. Quando a maré descia, as coisas melhoravam e voltavam à normalidade. Por vezes ficavam enormes charcos que prejudicavam as culturas. O povo até dizia que as batatas plantadas tinham morrido afogadas.
Depois o caminho foi ensaibrado e somente após o 25 de Abril a rua viu o alcatrão, em data que não posso precisar. Mais tarde, na vala-mestra foram aplicadas manilhas e, ao contrário do que se podia esperar, não mais houve alagamentos significativos.
Com a história da minha rua, abreviada, como não podia deixar de ser, já me esquecia de falar de um dos grandes vultos das letras portuguesas, que viveu entre 1799 e 1854. Foi um escritor e homem público multifacetado: poeta, dramaturgo, Par do Reino, ministro. Foi um romântico e o grande reformador do teatro português. Quem há por aí que não conheça Frei Luís de Sousa, Folhas Caídas e Viagens na Minha Terra? E quem de Ílhavo, e não só, desconhece, nesta última obra, o célebre debate que pôs frente a frente um ílhavo e um ribatejano, cada um apresentando-se como o mais valente? E não foi o ílhavo que levou a melhor, com a sua coragem frente ao mar, contra o ribatejano frente ao toiro?





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