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Coisas de antigamente (1)

Propriedade agrícola 



Sobre a propriedade agrícola, diga-se que nos primeiros tempos do povoamento desta região ela era razoavelmente extensa. Porém, à medida que o número de famílias foi aumentando, por força de novos povoadores e seus descendentes, em grande número, logo a terra começou a ser retalhada. E nunca mais deixou de o ser.
Também a venda de propriedades se fazia com muita facilidade, numa prova evidente de pouco apego à terra. Daí dizer-se, por exemplo, que se trocava um terreno por uma fornada de boroa ou por uma caldeira de papas. Sublinha o Padre Rezende, a propósito disto, que “ainda hoje se diz que um tal José Gafanha vendeu uma grande propriedade por... um GABÃO!” E continua: “Manuel Petinga, da Nazaré, possui uma escritura de 1807, pela qual Jacinto Francisco Sarabando tinha comprado a Luísa Maria, viúva de António Ferreira, uma terra no sítio da Chave por vinte e quatro mil réis. Apesar daquele local ser o terreno das primeiras culturas, e portanto o mais valorizado, foi vendido por este preço insignificante. Hoje [1944] ‑ continua o Padre Rezende – vende-se o metro quadrado a 17$00 ao norte, a 5$00 ao centro e a 2$00 ao sul da Gafanha”. Bons tempos, dizemos nós! 

Fernando Martins

Recordando o Padre Manuel Maria

Nós temos muito amor à nossa Gafanha

Padre Manuel Maria


«Nós, os mais velhos desta terra (donde já eram naturais os nossos pais de santa memória), temos muito amor à nossa Gafanha da Nazaré, e não a trocaríamos por nenhuma outra, ainda que fosse a nossa capital Olissiponense.
Conhecemo-la outrora, quando ela ainda era “criança”. Algumas casitas humildes, semeadas pelo meio dos pinheiros, servidas por caminhos de areia, por onde os boizitos mal podiam arrastar o carro quase vazio. As carências eram de toda a ordem. Só havia abundância duma coisa: trabalho duro e pouco rentável, e uma indómita vontade de trabalhar.
Era bom que os novos pensassem nisto, para nunca sucumbirem em face das dificuldades da vida, lembrando-se de que são descendentes de homens sacrificados e esforçadíssimos, que poderíamos intitular de “Heróis” da terra.
Ora, pelo grande amor ao trabalho, pelas admiráveis potencialidades desta região, decorrentes sobretudo da vasta Ria e do Mar imenso ligados a esta terra por um complexo de amigos inseparáveis, e por muitas outras causas que não dependem da vontade do homem — o que é certo e evidente é que o progresso das Gafanhas (que não é só da Gafanha da Nazaré) tem sido nos últimos anos insuperável e galopante.

GAFANHA — Deserto enorme de areias soltas


Deserto de areias soltas

«[A Gafanha] Era um lençol desolador de areia branca, de dúzias de quilómetros quadrados, que os braços da laguna debruavam a norte, a leste e a poente, isolando do contacto da vida a solidão árida do deserto.
Lá dentro, longe das vistas, bailavam as dunas, ao capricho dos ventos, a dança infindável da mobilidade selvagem dos elementos em liberdade.
Brisas do mar e brisas da terra, ventos duráveis do norte em dias de estabilidade barométrica, e rajadas violentas de sudoeste a remoinharem no céu enfarruscado de noites tempestuosas, eram quem governava o perfil das areias movediças cavadas em sulcos e erguidas em dunas de ladeiras socalcadas a miudinho.
Era assim a Gafanha do tempo dos nossos bisavós: deserto enorme de areia solta, a bailar, ao capricho dos ventos, o cancan selvagem de uma liberdade sem limites.
Um dia, não longe ainda, um homem atravessou a fita isoladora da Ria e pôs pé na areia indomável. Não sabe a gente se o arrastava a coragem do aventureiro, se o desespero do foragido. De qualquer modo, ele fez no areal a sua cabana, à beira da água, e principiou a luta de gigantes do Gafanhão contra a areia.»

Joaquim Matias,
Arquivo do Distrito de Aveiro,
vol IX,1943, página 317

JÚLIO DINIS PASSOU PELA GAFANHA

De vez em quando, sabe bem reler os clássicos da nossa literatura, nem que daí resulte algum prejuízo, momentâneo embora, para os escritores e escritos mais na berra. E foi isso que me levou, há tempos, a procurar na estante, algo desarrumada, um livro talvez pouco lido, a não ser por curiosos ou estudiosos das coisas literárias. Refiro-me a “Cartas e Esboços literários” de Júlio Dinis, com prólogo do célebre Egas Moniz, sábio que ao mundo e ao Homem muito deu no campo da medicina, mas que ainda encontrou tempo e disponibilidade interior para se dedicar a estudos sobre literatos e questões literárias, com a mesma paixão com que dissecava o cérebro humano em busca de verdades até então ignoradas.
Uma das cartas, agora lida com outro sabor, talvez pelo ambiente que quis e soube criar, referia-se à Gafanha, é certo que de fugida, em termos que me apetece repetir para que não caiam no esquecimento.
Reza assim, na parte que interessa, a missiva dirigido de Aveiro, em 28 de Setembro de 1864, a seu amigo Custódio Passos:

Egas Moniz na estação do Porto

  Quando vou ao Porto, a capital do Norte, lembro-me com frequência dos painéis que decoram a sala de entrada da Estação Ferroviária. Nunca ...