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DIA DO PAI — O MEU PAI

O meu pai, em cima, à direita, de óculos, no dia do batizado do João Paulo, de quem foi padrinho
Dizem os calendários que hoje, 19 de março, se celebra o Dia do Pai. Pondo de lado as prédicas dos que dizem que estas celebrações não fazem sentido (eles lá saberão porquê), eu continuarei a respeitá-las e a valorizá-las, no sentido de me debruçar sobre a efeméride, ao menos nesta data, com mais ênfase. Mas insisto em dizer que todos os dias do ano tenho presente no meu espírito os meus pais, o meu irmão e outros familiares e amigos. E como crente, por eles rezo todas as manhãs, rogando a Deus que pela sua infinita misericórdia os mantenha no seu aconchego maternal, onde espero estar um dia, que não tardará muito,  pela ordem inexorável da vida.

O meu pai, Armando Lourenço Martins, mais conhecido por Armando Grilo, foi sempre um homem bom, sereno, acolhedor e incansável trabalhador. Não era homem de muitas falas nem de zangas, nem de guerras, nem de bisbilhotices. Honrado e extremamente poupado, comedido nas palavras e pessoa de fé. Quando vinha do mar, fazia questão de visitar o nosso prior, padre Guerra, a quem oferecia uma caldeirada e o tabaco a que tinha direito durante as pescas. E quando chegava a casa até dizia à minha mãe, que bem ouvi, que o nosso prior até o tinha confessado na sala, na altura da Páscoa.
Nunca me lembro de o ouvir criticar ou dizer mal fosse de quem fosse. Foi, por temperamento e formação, um homem responsável. Tenho para mim que as suas qualidades brotaram espontaneamente do facto de ter sido um menino-homem, porque entrou no mundo do trabalho, nas marinhas de sal, aos nove anos, e aos 15 já andava sobre as ondas do mar, na pesca do bacalhau. Naqueles tempos, não se falava de trabalho infantil e muito menos de escravatura. Falava-se, isso sim, da necessidade de sobreviver. Foi órfão de pai. Meu avô, Manuel Martins, morreu da diabetes, tinha o meu pai 12 anos. 
O meu pai, que me lembre, nunca teve férias. Enquanto marítimo, na pesca, só havia férias em caso de temporal. Em terra, nos dias de folga, trabalhava, incansavelmente, no quintal, porque gostava de ver tudo limpo e bem ordenado. Plantava árvores, semeava o que era normal, regava constantemente em épocas de seca e fumava constantemente o seu cigarrito de marca “Porto”, que os meus filhos lhe iam comprar quando já tinham pernas para correr… e tinham de ir mesmo a correr para terem direito a uns tostões para rebuçados. 
O meu pai morreu cedo, aos 61 anos, com um enfarte do miocárdio. Nunca o conheci doente. Resistiu cerca de um mês. E a sua morte fez dele o meu herói. 

Fernando Martins 

Dia do Pai

Uma evocação saudosa do meu pai



Não falta quem desdenhe da celebração do Dia do Pai, por razões que nem sempre compreendo. Lá vem, com desculpa primeira, a de que o Dia do Pai é quando o filho quiser, supostamente todos os dias. Mas a razão não encaixa bem, já que no dia a dia das nossas vidas, por tantas preocupações, nem sempre temos a oportunidade de olhar para os pais. Quando ele morre, a coisa muda de figura. Magicamente, ou talvez não, o Pai (e a Mãe, naturalmente) passam a ocupar um lugar cativo na nossa memória consciente. Todos os dias, por isso mesmo, a figura serena do meu Pai, uma vida inteira embarcado, e o olhar terno da minha mãe são presenças constantes na minha existência. Não exagero. 
Mas hoje é o Dia do Pai, do meu pai que se chamava Armando Lourenço Martins, mais conhecido por Armando Grilo. Homem simples, com um sorriso aberto constantemente para os filhos, cigarro “Porto” na ponta dos dedos, amarelecidos pela nicotina, ao que suponho, paciente, generoso e com uma capacidade enorme para aceitar sofrimentos. Na tristeza ficava calado, mas nunca acusava ninguém.  O seu gosto muito especial era ser prestável a quem a ele recorria. 
O meu Pai era um homem saudável, de mãos fortes e calosas de tantos anos de trabalho desde menino. Nunca gozou férias fora da sua casa. Quando muito, dava umas voltas ao quintal, visitava os netos diariamente, sempre... sempre a fumar. Vinha a minha casa ouvir e ver o telejornal. Punha os netos mais novos sentados nas suas pernas, fazendo-os saltar enquanto dizia que eram cavalinhos. 
Um dia queixou-se-me com uma dorzita no peito. Talvez de algum, esforço que tivesse feito, garantia. De noite a dor acentuou-se. Às três da manhã, o médico, vizinho, foi vê-lo. Não seria nada de grave.
No dia seguinte entrou na Casa de Saúde de Aveiro. E o homem saudável, sem qualquer doença conhecida, não resistiu a um enfarte. Uns 30 dias depois morreu.Tinha 61 anos. 
Evoco-o neste momento, como todos os dias. Mas hoje, por ser Dia do Pai, partilho esta memória com natural comoção. 

Fernando Martins                           

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