Mostrar mensagens com a etiqueta Caramulo. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Caramulo. Mostrar todas as mensagens

Caramulo - Curva na estrada


Serra do Caramulo. Curva da estrada. Aldeia à vista. A energia graças ao vento. Pedras soltas. A montanha desafiante. Convite para um passeio. Venha a primavera. Fico à espera. 

Caramulo e os seus encantos

Das minhas memórias






O mês de agosto de 2014 foi muito rico a nível de férias. Eu e a Lita fomos uma semana para o Caramulo, a serra mais bonita de Portugal, no dizer de quem a conhece mais de perto, sobretudo pelos que a visitam com objetivos de nela descobrirem cantos e recantos entre vales e montes, ora revestidos de verdura que alimenta gado e pessoas, ora mostrando a agressividade dos picos cortantes das pedras ancestrais acolitadas por equilíbrios fascinantes. 
Houve tempo para visitar aldeias típicas, de velho casario talhado pela mão do homem com materiais oferecidos pela mãe-natureza, aqui e ali ofendido por moradias que contrastam com as rudes habitações dos serranos de antanho. 
Curvas e contracurvas, fascinados pela paisagem, eu e a Lita tentámos, mesmo que levemente e a correr, seguir os passos de Jaime de Magalhães Lima, que há 100 anos conheceu a serra e as suas gentes, como pude ler, com gosto, no seu livro de edição póstuma, "Entre Pastores e nas Serras". O erudito aveirense, amante da natureza e dos seus ares puros, mas também do povo simples que sobrevive do que a terra dá, terá sido, ao que julgo, o primeiro e mais puro ecologista da nossa região. E não foi por acaso que defendeu a necessidade de evitar meios de transporte que lhe impedissem o contacto com o povo. Chegou a fazer caminhadas, nas suas pesquisas pelo Caramulo, de nove horas de puro deleite.

Fernando Martins

Sugestões de férias para os meus amigos



Quem nasceu e vive com o som do mar a embalar o seu adormecer, e sente, ao acordar, as ondas a espraiarem-se nas dunas, não pode deixar de sonhar, também, com a silhueta dos picos da serra, que ao longe nos desafia. A primeira vez que fui à serra, e à medida que me aproximava dela, os meus olhos de menino pouco viajado ficaram deslumbrados. Senti um não sei quê na alma, um prazer inexplicável que ainda hoje, tantos anos depois, é um mistério no meu espírito. À serra vou sempre que posso e às vezes até juro a mim mesmo que um dia por lá hei de ficar uns tempos largos, para calcorrear montes e vales, entre vegetação luxuriante ou entre penedos com formas estranhas de figuras fantásticas que enriquecem o imaginário de qualquer um.
Há dias fui ao Caramulo à procura desses ares límpidos, alimentados, e de que maneira, pelo verde que tudo enche, ao som de regatos que deslizam do cimo dos montes, por entre pedregulhos que amplificam o cantar da água saltitante que apetece beber a toda a hora. E quando a sede aperta, como apertou depois de um almoço de vitela assada que só por ali tem um sabor como em nenhuma outra parte, então foi um regalo beber uns bons copos de água de fonte natural, recebida em bilha de barro vermelho que a tornou mais fresca.
Campo de Besteiros, São Tiago de Besteiros, Guardão, Janardo, Pedronhe e Cabeço da Neve foram alguns recantos da Serra do Caramulo que uma vez mais pude contemplar em dia partilhado com amigos que não esconderam o sortilégio que estas terras transmitem a todos os que chegam. Ruas e estradas amplas ao lado de ruelas empedradas que lembram tempos ancestrais, histórias de lutas travadas entre íncolas serranos e povos invasores, casario a cair de podre porque gente teve de emigrar, habitações com sinais de quem regressou à terra depois de muito trabalhar e de lutar na estranja, sanatórios abandonados porque os tuberculosos já se curam em casa, sem a ajuda dos ares puros da serra, de tudo um pouco se foi fixando na retina dos meus olhos, que nunca se cansaram de apreciar  miradouros naturais a paisagem a perder de vista.
Para os contemplativos, a Serra do Caramulo é uma bênção de Deus. Ali, longe dos habituais horizontes, sinto que a beleza não adulterada pelo mau gosto, em muitíssimos recantos, oferece a quem a visita a imagem do divino, que o céu contempla e abençoa com nuvens que batizam aspergindo tudo e todos.
A voz do silêncio que tantas vezes se fez ouvir, aqui e ali perturbada pela cantilena da água que descia apressada do cimo dos montes, à cata de gente que a saboreasse, ainda mais me convidava a cultivar a necessidade de voltar. O que farei sempre que puder, para encher os pulmões de ares puros e os pensamentos do aconchego do bem e do belo.
Proponho, ainda, a leitura de um livro, “Os poemas da minha vida”, de Marcelo Rebelo de Sousa. A edição é do “Público” e custa uns simples 6 euros. É-me sempre agradável apreciar a escolha de poemas feita seja por quem for. Como que sinto a sensibilidade e a alma de quem opta por este autor, por este ou por aquele poema.
Marcelo Rebelo de Sousa diz, no texto introdutório, que se decidiu por escolher poemas e poetas portugueses contemporâneos, do seu tempo. “Do tempo que vivi e vivo”, referiu.
Logo depois admite que terá ficado uma seleção “dececionante” do seu “tão significativo passado”, passado esse que nunca esquece. Ainda assim, diz que escolheu “o presente e o futuro”, na linha do seu “modo de ser”.
Por esta seleção de Marcelo passam poetas de Língua Portuguesa dos anos 50, 60, 70, 80 e 90, até hoje, que também proporcionam ao leitor, que gosta de poesia, momentos de encantamento.
O meu voto é que nas férias [de Natal ou noutras] que se avizinham muitos aproveitem para cultivar o espírito, na certeza de que o corpo também lucrará.
Proponho, ainda, um disco da minha conterrânea e amiga Jacinta: Tributo a Bessie Smith, com edição de Blue Note e aposta da TSF. Se não falarmos dos nossos valores, quem o poderá fazer? E não é a Jacinta a primeira artista portuguesa de jazz a ser editada pela Blue Note? Dela sublinha, José Duarte, a dicção, a força interpretativa e a sensibilidade. E a propósito de algumas interpretações de Jacinta, refere que é preciso ouvir, dar a ouvir e popularizar esta obra de arte.

Fernando Martins

Nota: Publicado no Correio do Vouga em 3 de abril de 2006

24 horas na paz da montanha

Golfinho 

Aldeia típica

Penedo 

Espigueiro

Como homem do mar e da ria, pisando chão plano, sempre sonhei, desde menino, com a magia da serra. Anos e anos olhei para as silhuetas das montanhas, bem visíveis em dias claros, com sonhos de um dia sentir ao vivo a paz dos montes, rodeado do silêncio e da verdura da floresta virgem. Já crescido, recordo os meus primeiros contactos com a serra e senti muitas vezes, ao longo da vida, o sortilégio da montanha, onde vou quando posso. E o mais curioso é que, quando a visito, novas sensações me invadem a ponto de alimentar, nem sei porquê, projetos inviáveis de me fixar nos montes de vidas mais calmas e da tranquilidade absoluta que me aproximam de modo diferente do espiritual.
Por 24 horas, fui mais uma vez ao Caramulo, onde há recantos aparentemente nunca vistos. Recantos que vamos descobrindo e redescobrindo em cada esquina, sobretudo em aldeias quase despovoadas, que estão carregados de história e de estórias que são, sem dúvida, riqueza que não pode continuar ignorada.
Dia de chuva, ora miudinha ora pesada e agressiva, com nuvens negras a indiciarem o Inverno que oficialmente ainda vem longe, as 24 horas que passei na serra proporcionaram-me uma paz interior que foi saboroso viver. Da janela da casa que me acolheu, fui contemplando a floresta que os fogos de Verão, felizmente, não têm mutilado nem nunca, ao que soube, transformaram em montanha de cadáveres hirtos e ressequidos. Nem carros acelerando e chiando nas cursas, que as há por ali, nem cães que ladram e gente que grita, nem altifalantes que anunciam aos berros arranhados a próxima festa, nem aviões em exercícios mecânicos e enfadonhos, nada perturbava o sossego da montanha que vivia, tranquilamente, a sua existência milenar.
Dei comigo a prescindir da música armazenada para ouvir o silêncio apenas perturbado, docemente, pela chuva miudinha que teimava em cair, senti o prazer de conversar ignorando a caixa mágica que mudou e moldou o mundo, deliciei-me com a sesta reconfortante, apreciei um conto da escritora Flannery O’Connor que me deixou emocionado…
Passeei por ruas tortuosas despidas de gente, olhei com curiosidade para a toponímia da terra, parei na fonte que corria ininterruptamente, decerto há séculos, admirei a vegetação espontânea que tudo cobre, ouvi estórias de gente que trabalhou e que sofreu, aprendendo na vida a vencer obstáculos e a ser feliz.
As nuvens acompanharam-me neste andar e neste estar, alimentando, com as suas correrias mágicas, ao sabor do vento, os meus sonhos, que nunca me abandonaram, de um dia correr mundo, como elas...
E tudo isto, e muito mais, graças a bons amigos que sabem muito dos meus sonhos e dos meus gostos.

Fernando Martins

Nota: Escrito em outubro de 2006

24 horas na paz do Senhor

22 de outubro de 2006



Como homem do mar e da ria, pisando chão plano, sempre sonhei, desde menino, com a magia da serra. Anos e anos olhei para as silhuetas das montanhas, bem visíveis em dias claros, com sonhos de um dia sentir ao vivo a paz dos montes, rodeado do silêncio e da verdura da floresta virgem.
Já crescido, recordo os meus primeiros contactos com a serra e senti muitas vezes, ao longo da vida, o sortilégio da montanha, onde vou quando posso. E o mais curioso é que, quando a visito, novas sensações me invadem a ponto de alimentar, nem sei porquê, projetos inviáveis de me fixar nos montes de vidas mais calmas e da tranquilidade absoluta que me aproxima de modo diferente do espiritual. 
Por 24 horas, fui mais uma vez ao Caramulo, onde há recantos aparentemente nunca vistos, que vamos descobrindo e redescobrindo em cada esquina, sobretudo em aldeias quase despovoadas que estão carregadas de história e de estórias, que são, sem dúvida, riquezas que não podem continuar ignoradas.

Egas Moniz na estação do Porto

  Quando vou ao Porto, a capital do Norte, lembro-me com frequência dos painéis que decoram a sala de entrada da Estação Ferroviária. Nunca ...